-Quarto 130

-Este quarto está registrado no nome de Mizuiro Yukio.

*Não era normal para Yukio sentir aquilo durante a noite. O professor-artista, sempre despreocupado com a vida costumava ter sonos tranquilos e sonhos que remetiam a situações agradáveis, na maioria das vezes até um pouco "picantes" demais, o que é normal para alguém ainda na sua idade, um jovem adulto sem namorada tem seus tempos em que o subconsciente lhe pega de jeito. Mas naquela madrugada, ele sentira algo diferente. Por volta das quatro da manhã, sentiu-se suado, mas não acordava de jeito nenhum. Dentro do seu sonho, parecia que alguém lhe prendia no estado alfa, impossibilitando seus olhos de abrirem. Ele não era mais Mizuiro Yukio dentro daquela ilusão subconsciente criada durante seu sono, mas sim Oliver Alveronne, o primeiro grande Mago do lendário trio de antecedentes de todas as magias. Ele, com longas barbas brancas, medindo cerca de 1,80m, bem magro e de olhos azuis-ciano, usava mantos brancos por cima de suas roupas largas e aparentemente surradas, com direito a um capuz cobrindo a maior parte dos seus cabelos. Sentava-se em uma mesa de um pub, tomando uma imensa caneca de cerveja ao lado de mais dois amigos. Um deles era um homem muito alto de olhos azuis mais escuros que os de Alveronne, também de cabelos brancos, porém amarrados em tranças em várias partes, com uma barba ralinha e roupas que pareciam mais "normais" para a Europa naquela época, como se fosse algum oficial do governo. O outro amigo na verdade era uma amiga, uma jovem senhora também já grisalha, com olhos azuis puxados para o violeta, com seus cabelos presos em um coque, usando um vestido de plebéia, mas ao mesmo tempo apresentando elegância no modo de agir e falar. Os três pareciam estar apenas conversando casualmente, curtindo um momento entre amigos.*

{É bem isso o que estou falando, Cyrus! *Oliver olhava para o homem muito alto, e apesar do sorriso no seu rosto, ele falava algo muito sério como se usasse de um certo sarcasmo* Se o plano da Igreja for efetuado, nós não podemos viver aqui por muito tempo.

-Oliver... *responde o alto homem chamado de Cyrus ainda há pouco* ... eu não nasci para me tornar um dos grandes magos e ser perseguido por fanáticos. Seria uma vergonha para a família Alzeinbern! Lizbeth também pensa assim, não pensa?

-Cyrus! *A jovem senhora chamada de Lizbeth o repreende, apesar de usar um tom extremamente calmo. Parecia que apenas seus olhos diziam mais do que o necessário sozinhos* Não ache que todos pensam da mesma forma que você. Se não fugirmos, seremos caçados e podemos morrer!

-Basta lutarmos! *retruca Cyrus Alzeinbern, ríspido* Eles não são páreo para o nosso poder! Juntos, nós somos tempo, espaço e equilíbrio!

-Mas isso nos tornaria tão errados quanto eles. *Oliver Alveronne continuava mantendo a calma, com o seu sorriso de sempre no rosto. Ele parecia ser o tipo de pessoa para a qual não existe tempo ruim. Tudo pode ser resolvido com um bom acordo e uma boa conversa* É errado derramarmos sangue para parar derramamento de sangue.

-Violência gera violência. Não faz sentido a usarmos contra violência. *Lizbeth, que por eliminação no pouco de raciocínio que ainda restava em Yukio enquanto ele assistia aquele sonho inteiro na visão de Alveronne, era a grande Anzelotte, também tinha a cabeça mais no lugar do que Cyrus. Isso assustava um pouco o rapaz, uma vez que os Anzelotte sempre foram famosos por serem até um pouco maquiavélicos, extremamente calculistas e inteligentes* Seria totalmente contraditório.

-Tsc... Então seremos covardes?

-Covardes não. Sensatos e pacíficos. }

*Alveronne toma mais um imenso gole daquela canecona que segurava e se levanta, virando-se de costas e indo na direção da porta do pub. Conforme ele saía, a visão de Yukio se tornava mais escura até ele finalmente abrir os olhos e voltar para o seu quarto nos dormitórios da Youkai Gakuen. Estava suando de leve, sentindo-se quente e um pouco desconfortável. Não sabia o porque estava tendo visões de um dos seus ancestrais mais importantes, mas era um mistério a ser resolvido cedo ou tarde. Confuso, o professor olhou no relógio e percebeu que estava ligeiramente atrasado. Correu cama afora, tomou uma ducha de três minutos apenas para tirar aquele suor do corpo, passou bastante desodorante e perfume pra ficar cheirosinho e vestiu jeans e camiseta branca, o mais clássico possível - claramente não esquecendo de seu gorro também branco sobre seus cabelos. Comeu um pedaço pequeno de pão com manteiga e tomou uma pequena caneca de café. Aquilo vai ter que durar até o almoço.*


*Calçou seus sapatos all-star brancos então e saiu do seu quarto correndo, indo direto para a sala dos Professores.*[/color]

*De novo. Na noite passada nem na retrasada aquilo acontecera, mas se passasse tempo demais é que ele tinha que desconfiar. Quando aquilo começa a acontecer, quando para é que é esquisito. No seu sonho, desta vez, não havia a taverna como da última vez, mas um castelo humilde no meio do nada. Literalmente, no meio do nada. Tudo o que se via aos arredores do castelo eram colinas verdes, árvores e montanhas, como se ficasse longe de qualquer povoado. O castelo não era gigantesco como os majestosos castelos europeus Reais ou de grandes senhores feudais, nem coisa do tipo. Era bem pequeno se comparado com estes, mais estava para uma pequena mansão muito bem cuidada, toda construída em belas pedras que davam um ar rústico e sofisticado ao mesmo tempo. Ao redor da mansão, crianças brincavam juntas, enquanto Oliver Alveronne - que era a pessoa a partir de qual Yukio tinha as visões em primeira pessoa em tal sonho - olhava aquilo a partir de uma das janelas no terceiro andar.*

{-Temos que gravar estes campos limpos e belos em nossas memórias, Cyrus. Provavelmente será a última vez que os veremos, hoje.

*Oliver tinha um sorriso bondoso no rosto, enquanto Cyrus Alzeinbern, o homem carrancudo que sentava-se sobre uma poltrona perto da mesma janela, respondia em um tom não muito feliz.*

-Nada disso me interessa mais. Me sinto um covarde fugindo, mas tanto faz.

-Você só não está admitindo o que se passa no seu coração, homem teimoso! *Lizbeth d'Anzelotte, a maga púrpura, sorria olhando pela janela ao lado, ainda no mesmo cômodo.* Assim como nós, você sofre ao imaginar nossos filhos e netos crescendo uns sem os outros.

-Não coloque palavras na boca dos outros, Lizbeth. *Foi a única resposta de Cyrus para aquela afirmação. Mas em momento algum ele negara aquilo. De fato, parecia bem doloroso tirar aquelas lindas crianças tão felizes daqueles campos perfeitos, mas era a única saída. Eles tinham que deixar a Europa caso quisessem continuar o legado das grandes Magias Universais pela história. Sabe-se lá quando alguém poderia descobri-las novamente no futuro.*

-Está na hora. As suas coisas estão preparadas? *Perguntou Oliver, virando-se para os dois.*

-Não sou do tipo que deixa coisas para a última hora. Meu Navio sai do porto Espanhol em cinco dias. Irei visitar as terras novas... E se me encontrar uma boa mulher, é por lá que ficarei.

*Cyrus, após dizer sua resposta, pegou uma trouxa de pano marrom e jogou pelas costas. Desceu as escadas e foi em direção a uma carruagem, do lado externo, que o esperava.*

-Este homem... É por isso que nunca conseguiu se apegar a uma única mulher. *Ri Oliver.*

-Oliver... *Dizia Lizbeth, parecendo entristecida.*

-Você tem certeza disso, Liz? *A pergunta do Alveronne era simples.* Estão caçando Magos e Bruxos neste lugar... Até mesmo quem não é praticante da magia pura está sendo acusado se não seguir costumes da Igreja. Se quiser, te levo comigo.

-Não me leve a mal, *respondeu Lizbeth, voltando a sorrir, mas com um olhar meio preocupado direcionado ao chão e então às crianças do lado de fora*, mas eu não poderia mais viver fora deste lugar... Ou tirar meus filhos e netos de onde eles mais amam. Apenas prometa que tentará nos visitar.

-Não é uma promessa fácil, Liz. *Alveronne pegou a delicada mão de Lizbeth e lhe deu um beijo nas costas da mesma, como um cavalheiro fazia com uma dama* Mas nós nos veremos em algum momento, seja ou não dentro desta vida. E pode ter certeza que mesmo não ouvindo esta promessa, o cabeça-dura do Cyrus também irá cumpri-la.

-... É uma promessa então. *Foi a última coisa que Oliver Alveronne ouviu sair da voz de Lizbeth, enquanto pegava suas coisas e descia uma escadaria de pedra em espiral para chegar no exterior e entrar em uma carruagem junto com seus dois jovens filhos e alguns netos, que choravam de leve ao terem que se despedir dos melhores amigos. Aquilo apertava o coração de Oliver, mas era a melhor opção. A carruagem então começou a seguir com seus cavalos em alta velocidade em direção ao Leste. Se por aqui a Igreja Católica quer mandar em tudo, então o melhor a fazer é ir ao Oriente onde outras culturas e religiões são predominantes e não cometem as mesmas atrocidades que esta instituição tão assustadora criada pelos homens "comuns".*}

*Esta foi a última coisa que Yukio viu em seu sonho, que se esvaía aos poucos e dava lugar aos seus olhos se abrindo dentro do seu quarto cheio de pôsteres de rock nas paredes. Ele se sentou na cama e ficou por lá, pensando em por que diabos ele estava tendo todas aquelas visões.*

*Yukio, depois de muito tempo ali na cama pensando no que tinha sonhado, finalmente se levantou. Lavou o rosto, deu um mijão nervouser - demorou quase um minuto inteiro mijando, quem nunca - e tomou uma ducha rápida só pra tirar o ar de dormido. Saiu do banho em uns dez minutinhos, levantou as duas mãos ao redor dos cabelos e usando sua magia, produziu uma massa de ar quente e ventos que circulou os mesmos, secando toda a extensão dos cabelos em cerca de dois minutos. Usando apenas uma cueca boxer azul, o professor abriu sua janela pra deixar o vento e o sol entrarem no quarto, apesar de ambos estarem mais fracos naquela manhã. Nem se lembrou do fato do seu quarto ser no primeiro andar, o que provavelmente faria pessoas no exterior o virem, mas dane-se. Vestiu logo depois um bermudão jeans também azul e o prendeu com um cinto de rebites estiloso, não largo, mas deixando apenas um fiozinho pequeno do elástico de sua cueca boxer aparecendo. Em cima, colocou uma camiseta regata cuja gola e mangas eram muito mais largas que o normal. A gola, em V, chegava quase no fim do tórax do rapaz, e as mangas curtas desciam até abaixo das costelas. Por cima, jogou uma jaqueta preta, deixando-a aberta. Tomou um café preto bem escuro e forte, sem açúcar nem nada, acordando de uma vez com aquilo e colocando em suas mãos e punhos como sempre pulseiras e luvas que não combinavam um lado com o outro. Para completar, colocou na cabeça o clássico gorro branco e foi escovar seu dentes. Suspirou e finalmente colocou sua voz em prática naquele dia.*

-Tem pessoas que precisam de mim nessa Golden Week.

*Alongou os braços, as pernas e o pescoço antes de sentar-se na cama e calçar um par de meias brancas e, logo depois, pegar um par de tênis largos, no estilo skatista mesmo, e levá-los até a porta, onde os calçou e então saiu do quarto, trancando-o por fim.*

*Yukio retorna no fim da tarde com a companhia de Shiraishi Minori, de mãos dadas com ela e uma expressão um tanto quanto dedicada em seu rosto. Trancou a porta e acenou para que ela ficasse a vontade, sentasse na cama, tanto faz.*

-Fica a vontade enquanto eu preparo tudo.

*Yukio então tirou as coisas dos bolsos de sua calça e começou a ver algumas coisas pela cozinha.*

*Yukio estava concentrado na cozinha usando um aventalzinho xadrez de preto e branco e uma toca de cozinha por cima da toca normal dele, cozinhando um ensopado e um pouco de arroz para dois, caprichando na comida. Quando ele ouve o que Minori dissera, nem sequer suspira dessa vez e apenas taca uma cenoura inteira na cabeça da aluna. A cenoura btw era daquelas bem grandonas, dava pra fazer o ensopado só com ela de legume, se ele quisesse.*

-Idiota. Te chamei pra comer comigo, e não pra te comer.

-PFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFF~

*Yukio fora pego de surpresa por essa. Não esperava uma pergunta tão ousada e tão repentina ao mesmo tempo. Abaixou a cabeça, jogou todos os ingredientes do ensopado na panela, agora era só esperar cozinhar bem. Suspirou por um bom tempo e terminou de fazer o arroz, tendo apenas que ficar de olho no seu nível de água. Enquanto preparava um suco para ambos, virou-se para Minori e olhou bem o tamanho da cenoura.*

-...Tá de brincadeira comigo? *Se não pode vencê-los, junte-se a eles. E ainda tire proveito da situação.* Isso aí não é nem metade do meu, tanto em tamanho quanto em largura. Você nunca aguentaria um troço desses, desiste logo.

-Um POUCO!? Se você tomasse um troço com o dobro de "potência" disso aí ia acabar rasgando no meio!

*Yukio, depois de uns dez minutinhos ali preparando aquela comida, finalmente tira o avental e serve sobre a mesa a panela de ensopado com uma outra tigela ao lado, com arroz no estilo japonês, alguns legumes e verduras picados para uma salada e um jarro de suco. Pôs pratos fundos para ambos, copos, deixou tudo arrumadinho para o jantar. Estava realmente caprichado.*

-Para de pensar besteira e vem. Você deve estar com fome.

-É a culinária suprema do universo. Contemple.

*É a resposta de Yukio, que também já servira comida no seu prato e começara a acompanhar a loira o quanto antes, afinal também sentia fome. Ele tinha que admitir para si mesmo, no entanto, que de fato a culinária dele não costumava ser tão boa assim, aquilo ali em especial está fora do comum, excepcionalmente saboroso. Isso o levou a pensar muito sobre Minori... Dizem que quando cozinhamos para uma pessoa especial, o tempero se torna o melhor possível. Bom, não é mistério que Minori também tem uma considerável paixão por Yukio, e talvez comer algo preparado por quem você gosta tenha sido um tempero melhor ainda. Isso vai matutar na cabeça do mago por um bom tempo, ainda.*

-Que bom que gostou... Não é todo dia que eu tiro pra cozinhar, afinal.

-B-betsuni anta no tameni tsukuttanjanaindakara ne!

*Tsundere Yukio strikes back com um "N-não é como se eu fizesse isso só por você!", faltando só o "BAKA" pra finalizar com chave de ouro. Entretanto, todos sabemos que Yukio não é tsundere, portanto fora tudo pelo Lulz, fazendo com que ele abrisse um sorriso divertido depois, colocando uma colherada na boca e esperando engoli-la para voltar a falar. A verdade é que a comida estava boa, mas a companhia de Minori deixava-a melhor. Era bom que ele deixasse as coisas bem claras antes que a "confusão" aumentasse de forma desnecessária.*

-Você é especial, Minorin... Ainda mais depois de tudo o que passamos juntos no ano passado pra fazer essa academia ser o que ela é hoje. Eu não vejo você como uma simples menina estudante como qualquer outra. Eu sei o que você passou e sei o que se passa na sua cabeça nessas situações, também... Pelo menos acho que sei. Eu só quero que você se lembre onde estamos e o quão errado pode ser se nós seguirmos pelo caminho que você deseja. Não pense que te odeio ou te rejeito... Entenda de uma vez: se tivéssemos nascido na mesma época, certamente eu não teria qualquer hesitação no meu peito.

-Não há nada que eu possa fazer sobre isso... Sinto muito.

*Yukio então fechou os olhos calmamente, cheio de compostura, colocando mais um pouco daquela comida na boca e mastigando-a devagar enquanto pensava naquilo que Minori acabara de dizer. A ideia dele simplesmente ser sincero pra deixar claro tudo o que a garota precisava saber acabara sendo um tiro saindo pela culatra. Depois de engolir a comida, o professor suspirou e voltou a olhar para ela, seriamente.*

-... Sua comida vai esfriar. Quer que eu pegue um novo talher pra você?

(POSTA AE GAY -q)

*De fato, o awkward silence entre os dois era mútuo e incorrigível. Depois daquelas palavras, Yukio também não conseguiu trazer às suas próprias bocas qualquer sentença que pudesse acalmar aquele ambiente. "É só uma aluna de dezesseis anos, Yukio", pensava o rapaz consigo mesmo, sem sucesso em mudar qualquer coisa. Aquela aluna de dezesseis anos conseguia ser o suficiente para deixá-lo sem jeito em uma situação daquelas. Afinal, declarações de amor abertas dessa forma não fazem parte do cotidiano do artista... Talvez do de quase ninguém por aí, pelo menos dos solteiros, ainda mais em relacionamentos complicados como a possibilidade de uma aluna menor de idade estar apaixonada por você. Yukio então simplesmente continuou comendo sua comida, que realmente estava boa, mas agora tinha um gosto um pouco mais amargo... Talvez fosse sua própria boca que temperava a comida de forma errônea sem querer. Ao terminar, aproximadamente junto de Minori, levantou-se e tirou a louça da mesa, levando de volta para a cozinha em silêncio. Só então se toca que poderia estar sendo inconveniente.*

-Ah, suman... Nem perguntei se você vai querer mais... Quer que eu leve de volta?