Almoxarifado Externo

-Pequeno casebre-almoxarifado onde ficam todos os equipamentos dos funcionários relacionados a trabalhos externos, como jardinagem, faxina, coisas do gênero.

*Almoxarifado Externo. Um lugar não muito cheiroso e limpinho, bem escuro e até um pouco úmido, do tamanho de um armário um pouquinho maior, como um closet ou algo do tipo. Ferramentas como pás, martelos, correntes, cordas e outras coisas usadas para manutenção externa da academia eram guardadas em prateleiras de madeiras meio velhas, e bem no meio delas, recostada no chão, estava Miho, dormindo. Depois de dormir ali pela noite inteira, bem no amanhecer ela acorda com barulhos de pássaros piando no exterior, além de pequenos raios de sol entrando pelas frestas de um basculante no alto da parede traseira. Babando e com olheiras, até um pouco vermelha, Miho se levanta e bate a nuca em uma das prateleiras mais superiores, recuando e agachando de leve com as mãos no local machucado, automaticamente socando o dedinho do pé esquerdo na parede do outro lado, levantando essa perna e caindo pra trás, batendo a bunda no chão e a nuca, mais uma vez, na prateleira de baixo, fazendo uma pá de aço cair lá de cima bem em cima da cabeça dela. Com raiva daquela porcaria toda, resolve parar e pensar: "Onde diabos eu estou!?". Pois é.*

-Sério... Que lugar é esse? Onde eu tô? Como eu vim parar aqui? O que eu fiz noite passada!?

*Miho não parecia lembrar de nada do que acontecera na noite anterior. Não sabia o que tinha feito, pra onde tinha ido, com quem estava e por que infernos ela estava presa sozinha no almoxarifado externo que ela nem sabia o que diabos era, afinal nunca tinha ido pra lá anteriormente. Levantando-se então, nervosa, começa a socar com tudo a porta daquele lugar, gritando coisas como "OOOOI, ALGUÉM AÍ ABRE ESSA CARALHA PRA MIM!!" e daí pra baixo. Estava se segurando muito pra não usar suas habilidades especiais, apesar de sua força ser alta. Aquela porta parecia ser feita de algum material realmente mais resistente do que o que ela estava acostumada... a arrombar.*

 * Passava tranquilamente por lá. Era um faxineiro, mas em primeiro lugar, um vagabundo. Saiu de boas pela academia e calhou de passar em frente ao almoxarifado. Foi uma cena levemente hilária. Ele se segurou MUITO para não rir. Soltou um abafado risinho e tratou de se aproximar. Como era faxineiro, tinha todas as chaves dali. Se aproximou da porta e disse calmamente *

- Garota. Fica calma, vou te tirar daí. 


* Depois disso, destrancou a porta, rodou a maçaneta e abriu. Na hora exata. Ele conseguiu abrir EXATAMENTE na hora que ela desferir um soco. Soco esse que o acertou em cheio no rosto. Forte o bastante pra ele cair no chão em dor. Ficou no chão alguns segundos sussurrando algumas palavras de baixíssimo calão. *

- Porquê ROLAS eu tenho tanto azar? 

* Era verdade. Tudo de mais improvável acontecia ao redor dele. Inclusive uma garota aleatória acordar presa no almoxarifado e ao socar a porta, acertar o faxineiro que passava por ali super de boas. É, Daisuke, tu é um azarado do caralho. *

- Bom... Ai. Agora você tá livre, ô Mike Tyson.

-Você!

*Miho, no calor do momento, pensando quase nada - o que é normal pra ela, aliás - vê o cara tomando o seu soco ao abrir a porta e logo o pega pelo colarinho da camisa, como se o ameaçasse. Aproxima o seu rosto do dele, com uma expressão assustadora, quase que com instintos assassinos sendo revelados pelo seu olhar, cerrando os dentes e com a testa franzida. Ela definitivamente havia entendido aquilo um pouco errado.*

-FOI VOCÊ QUE ME TRANCOU AQUI, NÃO FOI!? O QUE EU FIZ? O QUE HOUVE COMIGO ONTEM? QUAL É O SEU PROBLEMA!?

- Ô CACETE! PORQUÊ ESSAS PORRAS SEMPRE ACONTECEM COMIGO? 

* Daisuke estava com a cara inchada. Bem inchada. Foi quando abriu os olhos *

- Eu só me lembro de estar andando... Quando algo me atingiu. Deve ter sido um carro desgovernado... Eu estou num hospital agora relaxando, com uma enfermeira gostosa...

* Terminou de abrir os olhos. *

- Ah. Deixa quieto.

* Fechou os olhos e tentou voltar para seus sonhos. Nem rolava. Ele estava sendo sacudido por uma garota selvagem que deveria ser de uma tribo de canibais que cutucam o pé uma da outra com os restos de dedão do último cara que mataram. *

- Moça. Moça. Eu só abri a porta. E claro, fui atacado pelo Mike Tyson. Ai. Moça, olha. Eu não sei o que tu bebeu, mas que tu tá parecendo estar de ressaca presa num almoxarifado, isso tá.

* Já virou o rosto preparando-se para o próximo soco. *

-Eu bebi!?

*Miho não se lembrava nem disso. Será que alguém a dera bebida? Será que fora drogada? Será que fora entorpecida, molestada, estuprada, assaltada e largada em um local aleatório como aquele para apodrecer até a morte? Bom, talvez a última parte não fizesse sentido, uma vez que o almoxarifado externo era visitado no mínimo diariamente pelos funcionários da seção de limpeza e zeladoria da academia. Mas toda a teoria antes dali poderia ser verídica, mas para saber disso Miho precisaria, err... ter um momento "consigo mesma" para verificar se estava "tudo no lugar certo". Para isso, não poderia contar com Daisuke, obviamente. Mas independente de terem feito algo com ela, ela queria saber o que fora, o que motivara essa sequência de eventos e, principalmente, QUEM fizera aquela putarice toda. Largando o colarinho da camisa de Daisuke - e o deixando cair de costas no chão assim - Miho limpa a palma das mãos com tapinhas, agora olhando para Daisuke com uma expressão meio superior, ainda brava.*

-Você não viu ninguém aqui por perto? Ninguém comentando nada? Eu preciso saber se alguém fez isso comigo e o que exatamente aconteceu... Eu não me lembro de beber, e também não me sinto de ressaca... Tch! O que infernos aconteceu aqui!?

- Não sei se bebeu, mas puta que pariu, pára de malhar, mulher!

* Daisuke estava sério. Levemente tonto. Caiu no chão em instantes e se levantou. Ela era um tanto quanto chata. Não chata exatamente. Na verdade, doeu pra caralho aquela porrada. Daisuke ainda estava latejando. Levantou-se finalmente e tentou começar a falar, mas foi interrompido por uma chuva de perguntas. *

- Não vi ninguém. Ninguém comentando. Você parece BEM inteira, na verdade. Mais do que eu esperava. Ai. 

* Daisuke ficou sério. *

- Espera... Você tá "bem", né... ? Não fizeram "nada" com você... Né?

* Daisuke teve um momento de seriedade. *

- Se não rolou nada, relaaxa. Todo mundo tem seu primeiro porre. Na próxima, me chame!

* Bebe pra caralho as fuck. *

-O problema é não me lembrar de nada. Provavelmente alguém tentou fazer isso comigo, entendeu?

*Miho chega a rosnar de raiva simplesmente por não saber o que aconteceu. Mesmo que não tivessem feito nada demais com ela, não tivessem "abusado" ou roubado suas coisas, por que diabos a deixariam trancada naquele lugar? Qual era o propósito por trás disso? Miho até agora encucada com isso - e como a maior das habilidades dela não é lá "pensar" - resolve simplesmente sair dali e parar de tomar o tempo daquele cara, além de perder o seu tempo com ele também.*

-Oy, o criminoso sempre volta para a cena do crime. Se ver alguém suspeito por aqui, poderia me avisar? Sou Hiiragi Miho, do segundo ano.

*Antes que Daisuke pudesse respondê-la, ela ergueu o braço direito, despedindo-se de forma mal educada enquanto sumia naquele campo dos arredores na direção dos dormitórios, indo para os corredores do tal prédio.*

- Well... K. 

* Daisuke continua andando. Fingiu que nada aconteceu. Na real, tudo de bizarro acontece com ele, aquilo era de boas. Precisavam ver o dia que choveu frango assado. *

- Ah. Aquele dia foi foda.

* Lembranças *