-Quarto 180

-Este quarto está registrado no nome de Yukimura Kyo.

*Kirara passa pelos corredores em direção ao quarto do único aluno daquela academia que poderia não gostar naquele ano: Yukimura Kyo. Entretanto, após ouvir de Akemi alguns indícios sobre seu passado, Kirara decide descobrir o que aconteceu. Talvez aquilo tudo fosse a causa de Kyo tratá-la daquela maneira. E talvez também se descobrisse o que houve e o ajudasse a superar, poderiam finalmente ser amigos "que se tratam bem".*

[Não vou entrar... seria falta de educação.. Bom, não vejo alternativa]

*Então Kirara bate na porta com delicadeza, cuidando para que não acordasse ninguém.*

[Mas, se eu bater desse jeito... Ele realmente não vai ouvir nada '-'] *Pensa, imaginando o quanto estaria sendo idiota naquele instante.*

*Por fim, decide ficar ali, batendo na porta e aguardando, enquanto brincava com as mangas de seu kimono.*

*Kyo nota Kirara batendo na sua porta e aguarda ela parar de bater para então entrar e fechar a porta. Ao entrar, Kyo abre a geladeira, pegando alguns potes de macarrão instantâneo junto com alguns vegetais. Liga o fogão e ferve um pouco de água junto com os vegetais. Enquanto esperava a água ferver, Kyo tira seu sobretudo e abre a porta, falando para Kirara*

-Vai entrar?

*Ao ver Kirara caindo no chão, Kyo apenas se vira e volta para o fogão*

-Se for entrar, feche a porta...

*Coloca o macarrão instantâneo em duas vasilhas, coloca a água fervendo e as tampa com um pano. Depois, pega os vegetais e com uma faca, os pica em pequenos pedaços e os adiciona ao macarrão. Enquanto aguarda sua refeição ficar pronta, Kyo lava os utensílios*

-O que você faz aqui?

- Eu.... Vim conversar com você sobre uma coisa.. *Diz Kirara, levantando-se do chão enquanto leva uma mão á testa. Um galo enorme tinha aparecido em sua testa e, pela vermelhidão que estava, não iria sair tão facilmente.*

[Isso porque amanhã é meu primeiro dia de aula...]

*Então Kirara, já de pé, entra no quarto de Kyo e fecha a porta logo em seguida. Como o garoto ainda estava a tratando daquela forma, iria procurar não demorar muito ali; mesmo que o cheiro da comida fazia seu estômago ronca.*

- Kyo.. Encontrei sua irmã hoje na academia. Akemi-chan, se lembra? *Pergunta, ao se encostar na porta, com um rosto sério e olhos fixos em Kyo.* Ela é uma menina incrível. Carinhosa, educada e bastante brincalhona. Então, poderia me dizer o porquê de me tratar dessa forma? *Pergunta Kirara, já cruzando seus braços, deixando cair as mangas de seu kimono sobre eles.*

[Então ela realmente está aqui....]

*Assim que Kirara se encosta, Kyo pega uma das vasilhas com macarrão, junto com um par de hashis e entrega a ela. Logo depois, pega sua vasilha e hashis, sussurra um "Itadakimasu" quase inaudível e vai comendo aos poucos em pé. A notícia da presença de Akemi na academia surpreendeu Kyo, além de fazer com que o mesmo imaginasse como seriam seus anos ali com a presença da irmã que não via há alguns anos*

-Akemi e eu somos diferentes. Sua visão das pessoas e do mundo é totalmente contrária a minha. Este é meu jeito de ser. Não vou mudar isso. Não há motivos para que eu mude...

*Kirara percebe que Kyo terminara de cozinhar e fica aguardando a resposta do mesmo. Logo depois, recebe uma vasilha de macarrão que o mesmo fez, surpresa pelo gesto de alguém tão confuso.*

- A...arigato... *Diz Kirara, ao pegar os hashis e escorregar até se sentar em frente á porta, já que não queria adentrar mais no quarto de Kyo.*

- Percebi que vocês são diferentes. E muito! Mas... voltando á razão por eu estar aqui *Diz Kirara, enquanto leva um pouco de macarrão á boca* O que houve de tão horrível com você para que você tratasse a todos assim? Sua desconfiança não é normal, mesmo para uma pessoa que sofrera um grande choque emocional. *Explica Kirara, enquanto engole a primeira dose de macarrão.*

[Sei que estou sendo muito direta... Mas não vou ficar enrolando...]

*Ao ouvir a pergunta de Kirara, Kyo suspira e caminha até a janela, ficando um pouco de costas para ela e com a luz da lua iluminando seu rosto fazendo com que seus olhos mudassem de verde escuro para um amarelo claro. Aos poucos as lembranças de seu passado e da chacina que havia cometido voltam à sua mente. Apesar de tudo isso, Kyo mantinha sua expressão séria e fria*

-Kirara.....isso....é um assunto pessoal, não espere que eu te responda. O que aconteceu ou não diz respeito somente a mim e Akemi. Não desconfio de ninguém, apenas não pretendo me aproximar dos outros, assim como não pretendo permitir que os outros se aproximem de mim. Apenas permiti que você entrasse devido a sua teimosia e persistência, e essa refeição não passa de simples cortesia e educação. Se não tiver mais perguntas, peço que saia assim que terminar de comer.

*Em momento algum Kyo esperava ofender Kirara. Apenas era comum para ele se comunicar com outras pessoas dessa maneira. Ao seu ponto de vista aquilo tudo era como uma conversa simples entre duas pessoas, sem elogios ou ofensas*

*As palavras de Kyo vieram até Kirara como um soco no estômago. Nunca ninguém falara com Kirara daquela forma e naquele tom; era realmente de assustar. Tomanda por uma raiva extrema, Kirara deixa sua tigela de macarrão ao lado do corpo e se levanta com a cabeça abaixada. Talvez era possível ver escorrer de sua bochecha uma pequena lágrima de tristeza. Estava procurando ajudar Kyo da melhor forma possível, mas para que isso acontecesse, precisava saber o que aconteceu.*

- Tudo bem. Obrigada pela refeição. Estava... muito bem feita. *Diz Kirara, ao levar uma das mangas de seu kimono até o rosto, limpando-o.* E eu espero... que seu primeiro dia de aula amanhã seja produtivo. *Diz, ao forçar um sorriso em meio as lágrimas.* Até mais... Kyo-san...

*Pronta para se virar e ir embora, Kirara tem uma última luz de esperança. Decide então fazer algo inesperado ali mesmo, sem pensar muito para não desistir. Assim, Kirara corre até Kyo, o abraçando por trás e afundando seu rosto em suas costas.*

- Por favor.. Espero que um dia você possa confiar em mim a ponto de me contar o que aconteceu. *Diz, um pouco abafado.*

*Kirara então solta Kyo e vira-se em direção a porta. Pega na maçaneta e abre, já caminhando em direção aos corredores. Procura não dar uma última olhada no garoto, para que o mesmo não visse seu rosto um pouco molhado. Apesar que, talvez, Kyo não ligasse para isso..*

*Kyo nota que uma lágrima escorre dos olhos de Kirara e se vira, ficando totalmente de costas para ela*

-Tenha uma boa no....

*Nesse momento Kyo é abraçado de surpresa. Ele então, ainda de costas, apenas abaixa a cabeça, vendo pela janela tudo o que acontecia lá fora*

-Boa noite............Kirara-chan.......

*Assim que Kirara sai do quarto, Kyo se vira devagar e pega as vasilhas. Sua expressão séria demonstrava agora um leve toque de tristeza. Terminando de lavar a louça, Kyo tranca o quarto e apenas se deita na cama, virando o rosto e olhando para a porta*

[Um dia você vai entender.....]

*Kyo então fecha os olhos e depois de um tempo adormece*

*Algumas horas depois, Kyo começa a se revirar na cama. Estava tendo um pesadelo naquela noite. Ao longe, Kyo podia ver a si mesmo e mais uma outra pessoa se enfrentando. Aos olhos do garoto, aquela se tratava de uma luta de vida ou morte. Mas contra quem ele poderia estar lutando? Kyo então se aproxima dos dois, mas no momento em que o faz, seu outro eu desfere um último ataque contra o oponente. Curioso, Kyo então corre até a figura caída. Conforme vai chegando mais perto, uma expressão de surpresa e terror aparece em seu rosto. A pessoa que jazia morta a sua frente era ninguém além do que Nerisaga Kirara, a segundanista que conhecera naquele mesmo dia. Uma voz ecoa dentro de sua cabeça dizendo: "É tudo culpa sua...Você não pode protegê-las". Kyo então a pega nos braços, perguntando-se quais os motivos que teria para fazer tal atrocidade. Seus pensamentos são interrompidos quando ouve um grito familiar ao longe. Se tratava de Akemi. Aterrorizado, Kyo corre em direção da voz, temendo pela vida da pequena irmã. Quando se aproxima, Kyo vê seu outro eu segurando sua irmã pelo pescoço, olhando para ele com olhos vermelhos e um sorriso maligno, dizendo-lhe: "Acha que pode salvá-la? A morte é o destino de todos próximos a você....". Kyo então corre em direção ao seu outro eu, na intenção de pará-lo. Mas tudo aquilo é em vão. Kyo apenas atravessa pelo corpo, virando-se e vendo a si mesmo matar Akemi enquanto ri. Kyo cai em prantos, ajoelhado em frente ao corpo sem vida de sua pequena irmã, chorando muito. Seu outro eu, ainda rindo malignamente, desaparece aos poucos. Kyo então acorda ofegante, os risos de seu outro eu ainda ecoando em sua mente.*
 
-NÃO! NÃO! NÃÃÃÃO! Ah.....ah.......ah.......
 
[Foi um pesadelo? Não....aquilo era muito real.....Estou com um mau pressentimento sobre isso]
 
*Kyo então, sem conseguir dormir, se levanta e vai tomar um banho. Alguns minutos depois, já trocado, Kyo sai de seu quarto, trancando a porta*
 
[Preciso de ar fresco...]

*Kyo entra rapidamente em seu quarto. Vai até o banheiro e toma um banho não muito demorado. Em pouco tempo sua aula iria começar e não poderia se atrasar. Ao terminar seu banho, Kyo veste seu uniforme, arruma seus materiais e faz uma pequena anotação em um pedaço de papel, o qual coloca perto da geladeira*

-Preciso comprar algumas coisas para amanhã...

*Sai do quarto, tranca-o, indo para os corredores novamente*

*Kyo chega a frente de seu quarto e vê que havia alguém ali e, ao se aproximar, percebe que se tratava de Kirara. Mas por que ela estaria sentada no corredor? E por que logo na frente do quarto dele? Provavelmente ela teria algo a tratar com ele. Pensando nisso, Kyo se aproxima de Kirara e põe a mão em seu ombro*

-Mas o quê?

*Para o espanto do garoto, Kirara estava com o corpo extremamente gelado e para Kyo, que não sabia sobre a raça da garota, isso era um mal sinal. Ele olha para ela e vê que a mesma estava dormindo, o que dificultaria bastante as coisas. Não podia simplesmente deixa-la ali. Mas também não tinha tempo para leva-la até o pronto socorro. Kirara precisava de cuidados imediatos, e, quando a temperatura da mesma se estabilizasse, iria com ela até o pronto socorro. Mas então um outro problema surge. Kyo estava com o braço imobilizado e não poderia fazer esforços. Mas no fundo, Kyo havia criado um certo respeito por Kirara, devido a  atenção que a mesma dava para sua irmã Akemi. Ignorando as recomendações médicas, Kyo retira a tipóia, abre a porta do quarto, pega Kirara nos braços e entra, colocando-a imediatamente sobre sua cama. Agora precisava de uma maneira de manter a temperatura de Kirara estável. O garoto então vai até o banheiro e pega algumas toalhas e uma bacia. Indo até a cozinha, Kyo enche a bacia d'água e a coloca no fogo junto com uma das toalhas. Enquanto a água aquecia, ele pega a outra toalha e com um ferro de passar, passa-a durante alguns minutos. Depois pega as duas toalhas e compara a temperatura. A que havia sido passada estava mais quente, porém a que se aqueceu com a água mantinha o calor por mais tempo. Estava decidido, este seria o método utilizado. Ele pega a toalha já aquecida e a coloca na testa de Kirara. Assim que as outras ficam "prontas", ele as coloca nos ombros e abdômen da garota. Feito isso, ele passa a observar a temperatura da menina em pequenos intervalos. 5 minutos para ser mais preciso. Mas para seu assombro, ao se passarem os 5 minutos, as toalhas estavam geladas, quase a ponto de se congelarem. Manter a temperatura dela em um nível saudável daquela maneira era praticamente impossível. Ele precisava pensar em algo, e rápido. Ele vai até Kirara e retira as toalhas, colocando-as de volta no banheiro. Ao retornar para perto dela, a imagem do abraço que recebera na noite anterior. Aquilo realmente havia o deixado com uma sensação que não sabia explicar. Mas então, uma idéia surge em sua mente. O único jeito de mantê-la aquecida naquelas circunstâncias era através da troca de calor entre seus corpos. Por estar fazendo aquilo para o bem dela, Kyo deixa seu orgulho de lado e, após ajeitá-la em sua cama, se deita e a abraça, apertando-a contra o próprio corpo. Estava preocupado com ela e não sabia se conseguiria mantê-la aquecida até o dia seguinte, mas era a última esperança em sua mente.

[Espero..... que dê tudo certo...]

*E assim, depois de algumas horas, Kyo adormece*

*Kyo estava tão cansado por causa dos acontecimentos na biblioteca que acaba dormindo um sono profundo, não conseguindo ouvir ou sentir Kirara acordando e gritando na sua frente. Apesar de bastante profundo, Kyo acaba não sonhando naquela noite, o que para ele já era bom, levando em conta o último sonho que tivera, onde via a si mesmo matando a própria irmã. Mas logo algo interrompe esse sono. Apesar de inconsciente, Kyo sentia como se gotas d'água extremamente gélidas caíssem sobre seu rosto. Vários minutos se passam e as tais gotas continuam caindo, até o momento em que Kyo recobra a consciência. Já estava acordado mas mantém os olhos fechados sem motivo, logo percebendo que as gotas na verdade eram o dedo indicador de Kirara, que já estava acordada e cutucava-o nos rosto. Por se irritar com muita facilidade, não demora muito para que o jovem perdesse a paciência, resolvendo se pronunciar ainda de olhos fechados, com sua voz característicamente inexpressiva de sempre*

-O que está fazendo?

*Kyo nota que Kirara estava falando bastante, o que era normal para ela e, portanto, significava que a mesma poderia estar melhor. Por acabar tendo dormido, Kyo não tinha noção de quanto tempo se passara desde suas tentativas de estabilizar a temperatura da garota, mas isso já não importava mais, pois agora tudo parecia estar bem. Ele então se levanta vagarosamente, ficando sentado do lado de Kirara com os olhos ainda fechados, dá um longo suspiro e vai até o banheiro para lavar o rosto. Ainda estava um pouco cansado devido aos ocorridos da tarde, mas pelo menos aquele pequeno intervalo em que havia dormido lhe fizera muito bem. Ele então sai do banheiro com uma toalha de rosto por cima dos ombros e caminha até a geladeira, pegando uma latinha de chá não muito gelada. Seus cabelos e rosto estavam molhados e Kyo nem mesmo aparentava que havia acabado de acordar. Ele então se vira para Kirara segurando a latinha*

-Quer uma?

*Enquanto tomava seu chá, Kyo se vira para fechar a geladeira, então não vê Kirara esfriar a bebida dela com o sopro, se virando só depois disso, voltando sua atenção para a lata. Ao olhar para a janela, Kyo nota que já estava de manhã e que logo teria que ir para a sala. Mas precisava saber sobre o estado de Kirara antes. De repente a garota fala sobre algo que havia comprado e retira um pequeno saquinho roxo de seu kimono, esticando a mão para Kyo no momento seguinte. Sem saber o que fazer, o garoto simplesmente caminha até ela pegando o saquinho e retirando de dentro dele um chaveiro no formato de um lobo, voltando a sentir a pele gelada da garota. Estava intrigado com aquilo. Era uma coincidência muito grande ele, um lobisomem, receber um chaveiro de lobo de uma garota. Mas não tinha tempo para pensar nisso, afinal já havia amanhecido e ambos precisavam ir para a aula, mas precisava saber se Kirara estava bem, caso contrário, a levaria até a enfermaria*

-Está se sentindo melhor?