-Quarto 140

Relembrando a primeira mensagem :

-Este quarto está registrado no nome de Yukiiro Mizuyo.

-Irasshai!

*Disse Mizuyo enquanto, ainda de avental, abria a porta para Mamoru. Após o garoto entrar, ela logo fechou a mesma e a trancou para evitar incômodos. Ali da cozinha americana ela levou ao balcão da mesma uma bandeja cheia de biscoitinhos e pãezinhos, copos e um chá recém feito, quentinho.*

-Fique a vontade, fiz café da manhã pra gente!

-Eh?

*A primeira reação de Mamoru é ficar meio vermelho nas bochechas ao ver uma garota bonita como Mizuyo usando um avental por cima de roupas tão bonitas que estava usando. Ele só tinha a visto com o uniforme da Academia até agora, então aquilo para ele era realmente "animador". Logo adentrou o quarto como lhe foi indicado e ouviu a garota dizendo que havia feito café da manhã para ambos. Sorriu. Realmente não tinha comido nada naquela manhã.*

-Arigatou, Mizuyo-san. Eu realmente não comi nada até agora. Mas, me diga... Fiquei preocupado, o que é que você precisava falar comigo?

-Gosto de como você é prático, Mamoru-san. Sem delongas, direto. A vida seria muito mais fácil se todos pensassem e agissem assim.

*Disse Mizuyo com um sorriso divertido no rosto, tirando o avental do corpo e sentando-se ao lado do balcão onde estavam as bandejas com o café da manhã, acenando para que ele fizesse o mesmo. Serviu chá nos dois copos, tomou um pequeno e educado gole e então virou-se para ele novamente.*

-É a respeito da Carta que a Capitã tem. Foi você que fez, não foi? O que exatamente é aquilo?

*Mamoru apenas ri com o primeiro comentário. De fato, ele não gostava muito de enrolações e já pensara que a maioria das pessoas poderiam ser daquela forma para evitar muitos problemas desnecessários. Era engraçado como aqueles dois jovens ali pensavam de maneiras tão parecidas para muitas coisas. Mizuyo provavelmente fora uma das únicas pessoas que ela conheceu até o momento na academia com a qual ele se identificou 100%. Nem mesmo Benkei, seu novo amigo que criara um vínculo bem forte logo no primeiro dia, tinha tanta sincronia com ele assim. Aquilo era legal, talvez Mizuyo fosse o tipo de pessoa perfeita para se ter como uma grande amiga confidente... Além do Senpai e da Capitã, claro. Assim que Mizuyo indica para que ele se sentasse ao lado dela, ele o faz tomando também um gole do chá enquanto ela faz a pergunta. "Ah, eu devia imaginar que era algo assim", pensou Mamoru de imediato. Afinal de contas, desde que ele revelara a Carta de Kodama para Mizuyo, aquilo certamente apareceria uma hora ou outra. Pelo menos é o que ele pensava, e pelo jeito a sincronia dos dois funcionou de novo.*

-Aquilo é um Pacto Espiritual. Como eu te contei quando estive aqui da última vez, sou um Invocador, e minha especialidade está na invocação de energias e ligações espirituais entre as pessoas e suas essências. A carta faz com que eu tenha sempre contato com as pessoas que as possuem, sendo assim um ótimo meio de comunicação. Adicionalmente, como a carta invoca e evoca a própria essência daquele que a possui, fará com que um aspecto importante daquela pessoa seja aflorado. Um talento, um poder, uma habilidade, por exemplo.

*Mizuyo ouve tudo com atenção enquanto degustava um biscoitinho de chocolate. Tudo aquilo lhe parecia muito interessante, ainda mais porque Mamoru explicava tudo com tanta perfeição e afinco que parecia ainda mais convincente que o normal. Após ouvir tudo o que o ruivo tinha a dizer, ela engoliu o biscoitinho e passou um guardanapo nos lábios para limpar os farelinhos que poderiam ter ficado, educadamente e de forma delicada.*

-Então é um pacto que dá comunicação entre amigos e ainda aflora um "talento" da pessoa pactuada? Não é possível que algo tão bom assim seja totalmente gratuito, não é? O que eu precisaria fazer para ter uma carta dessas?

*Mamoru suspira um pouco. Essa é a parte que normalmente é meio complicada de dizer às garotas. Afinal de contas, por mais que Mamoru seja um garoto bonito, de boa aparência e educado - ou seja, que a maior parte das garotas acaba gostando - era fato de que uma garota não iria simplesmente aceitar um beijo nos lábios para um simples pacto daqueles. Mas já que a pergunta fora feita, Mamoru nem se preocupou em comer nada, apenas tomou mais um pouco do chá para manter os lábios úmidos e não ficar com garganta seca quando fosse falar.*

-Um contato profundo entre nós é tudo o que preciso. Quando faço este pacto com uma amiga mulher, a forma mais fácil é um... beijo.

*prontofalei.*

-Ara!

*Mizuyo não consegue esconder sua surpresa ao ouvir aquilo. Não imaginara que algo daquele tipo deveria ser feito, mas fazia sentido. Nada como um "contato forte" entre duas pessoas para firmar um pacto espiritual, algo que os conectasse exterior e interiormente durante um possível ritual. Um pouco corada - afinal mesmo com toda a sua "maturidade", Mizuyo ainda é uma garota - ela então fez questão de colocar no seu rosto o seu sorriso mais irônico que o de costume, mas para falar algo que em um tom provocativo para Mamoru do que irônico em si. Aproximou seu rosto um pouquinho dele, como se o colocasse em um teste.*

-Nee, Mamoru-san... Watashi to kissu shitai desu ka?

*"Ei, Mamoru-san, você quer me beijar?", foram as palavras enunciadas pela voz bonita e provocativa de Mizuyo, fazendo Mamoru deixar uma batida de seu coração escapar, corando em dobro e dando um leve saltinho pra trás, distanciando-se um pouco e evitando que aquela aproximação da garota fosse algo "surpresa" demais. Então colocou um sorriso gentil, enquanto seu olhar ainda era meio confuso.*

-E-eu adoraria fazer um pacto com você, Mizuyo-san.

*A contornada fora excelente.*

-Sou desu ne.

*Concorda Mizuyo, levantando-se de sua cadeira e ficando de pé no meio do quarto, como se esperasse o garoto. Jogou seus cabelos para trás, deixando seu rosto bem a mostra e juntando suas mãos atrás de seu corpo. Seu sorriso agora era pequeno, como se nem quisesse exatamente sorrir, mas apenas ser gentil. Seu olhar estava decidido, convidativo. Ela queria sim, ganhar um meio de comunicação com o seu querido novo clube e, de quebra, ter um talento aflorado.*

-Sa, Mamoru-san. Watashi to Meiyaku wo shite kudasai.

-Hai.

*É a resposta de Mamoru, positiva e firme como sempre, sucinta, sem hesitação. O garoto então se levantou da cadeira em que se sentava e ficou de frente para Mizuyo, olhando no fundo dos olhos dela e segurou em seus ombros gentilmente, aproximando seus rostos e beijando-a também com gentileza, mas de forma profunda para que o pacto pudesse ser feito. Elevou sua energia, o que fez uma aura se expandir ao seu redor. Esta aura esbranquiçada se separou entre três círculos brilhantes pequeninos, mas bem reluzentes. Um deles em um tom de rosa-claro, o segundo num vermelho vivo e o terceiro mais alaranjado, rodeando os dois e desenhando ao redor dos mesmos um imenso círculo mágico com vários símbolos e inscrições que diziam "Kaikki maailmankaikkeuden tähtien siunaa tämän hengellisen side virallista sopimusta ikuisen oikeudenmukaisuuden, rakkauden ja veljeyden." (Todos os astros do universo abençoam este vínculo com um pacto oficial de justiça, amor e fraternidade.) girando nas bordas. Kuu, Aurinko e Tähti estavam simplesmente seguindo as ordens que o subconsciente de Mamoru havia lhes dado imediatamente assim que Mizuyo lhe retribuíra o beijo: um pacto oficial. Duas cartas iguais com a imagem de Mizuyo então surgem naquele círculo, sendo entregues uma para cada um. Logo após o pacto ser fechado, cerca de um minuto inteiro depois de iniciado, as três gatas desaparecem voltando ao espírito invocativo de Mamoru, só então permitindo que os dois separassem seus lábios.*


-Pacto fechado, Mizuyo-san. Ou deveria dizer... Evangeline-san?

-Uff!

*Foi tudo o que Mizuyo conseguiu dizer depois do ritual inteiro, porque durante o mesmo ela estava muito ocupada ficando mais vermelha que um pimentão e deixando a temperatura de seu corpo se elevar como um vulcão adormecido voltando a ativa. O beijo de Mamoru fora apenas um selinho demorado, mas ela definitivamente não estava acostumada com isso... Aliás, fora seu primeiro beijo, e ela nem tinha se tocado disso até dá-lo. Quando terminou, sua cabeça estava quase soltando fumaças. Mamoru realmente era muito mais charmoso em momentos a sós do que o que aparentava quando estava em grupos maiores, quando ele sempre fazia mais piadas e sorria de forma despreocupada. Agora fora Mizuyo que deixara uma batida do seu coração escapar, respirando fundo e voltando a si quando o mesmo volta a falar. E quando fala, ainda revela seu nome original. Meio assustada, ela pega a carta e percebe que o seu nome original é o que fica cravado ali. Sorriu, afinal aquilo não era algo que ela tivesse que ter medo ou esconder. Pelo contrário, seu nome japonês era apenas por conveniência.*

-Evangeline Ayla Mariamme Candelira Ydril d'Anzelotte é meu nome completo. Muito difícil, não é? Pode me chamar só de Mizuyo mesmo. Uso este nome por aqui não é por disfarce, mas apenas por conveniência.

*Ela então olhou a carta e viu seu signo, seu planeta regente, um número referente ao tarô tradicional, uma imagem dela com roupas sociais parecendo até mais adulta que o normal e, na parte inferior, seu nome com o título The Magician. "O Mago", dizia aquela carta... Acertara em cheio, não? Achando aquilo muito interessante e não duvidando de mais nada, afinal de contas a carta acertara tão a fundo que não tinha como duvidar de uma ligação profunda naquele pacto, ela sorriu novamente da forma divertida que sempre fazia e a fez desaparecer com magia, guardando-a em algum lugar seguro.*

-Obrigada, Mamoru-san. Pode ter certeza que faremos bom uso deste pacto.

-Wakatta.

*É a resposta de Mamoru, que volta para perto do balcão e come alguns biscoitinhos, sorrindo. Em sua cabeça, as gatas pareciam querer mandar alguma mensagem. Em silêncio, de olhos fechados e parecendo que estava se concentrando, Mamoru sentou-se na cadeira que estava antes e tentou ver o que era.*

[-O que houve, dessa vez?]

[-...Goshujin-sama... Sobre essa garota com quem você acabou de fazer o pacto...]

[-Hm...? Mizuyo-san? O que tem?]

*Um pequeno silêncio surge na mente de Mamoru, seguido por uma resposta de Tähti, que parecia estranhamente séria.*

[-Tome cuidado com ela, Mamoru-sama.]

[-Hm? Como assim?!]

[-Apenas tome cuidado, Mestre.]

[....]

[Desculpe incomodar.]

*Depois deste pequeno diálogo, Mamoru abriu os olhos. Não devia ter demorado nem meio minuto na real, e então ele suspira fundo pegando mais um biscoito e virando-se para Mizuyo.*

-Tem algo mais que eu possa lhe ajudar, Mizuyo-san?

-Bom, era só isso... Mas sinta-se a vontade e sirva-se. Fiz o café da manhã para duas pessoas.

*Mizuyo sorria enquanto sentava-se também, terminando seu chá e pegando alguns pãezinhos, agora. Ela ficara curiosa em saber o motivo pelo qual Mamoru ficara tão concentrado de olhos fechados agora pouco, mas provavelmente devia ter sido pelo uso de energia na hora de fazer o pacto. Sem se importar, deixando sua curiosidade ligeiramente alimentada, a garota continuava sorrindo. Parecia que o sorriso estampado no seu rosto tinha ficado colado lá pra sempre.*

-Por que? tem algum compromisso agora?

-Não exatamente. Eu planejava me encontrar com a Capitã ou com Ben-kun.

*Mamoru então se levanta, pegando um pãozinho e o experimentando. Estava tudo muito bom naquele café da manhã, mas ele estava satisfeito. Tomou seu chá inteiro e foi até a porta, virando-se para se despedir de Mizuyo.*

-Obrigado pelo café da manhã, estava delicioso. Eu vou indo nessa, mas você já sabe como me chamar qualquer coisa, né?

-Hai!

*É a resposta de Mizuyo para o garoto, levantando-se também e o acompanhando até a porta, a qual abriu para ele de forma educada esperando o mesmo sair.*

-Nos vemos logo mais.

-Aa!

*Sorrindo e concordando, Mamoru se vira e sai do quarto.*